Filosofia da mente
Não é incomum entrarmos a afirmação de que a filosofia da mente contemporânea teria surgido com a publicação do livro de Ryle, The Concept of Mind em 1949. Mas porque tomar esta obra como um marco da aparição desta nova disciplina, de um passado tão extenso? Talvez seria melhor perguntarmos o que conferiu à obra de Ryle essa importância de marco inicial, buscando no contexto de publicação de sua obra aquilo que os historiadores chamam de “razões estruturais”. Seriam estas que confeririam importância ao livro de Ryle e não vice-versa.
No iniciou da década de 50 o behaviorismo radical dava seus primeiros sinais de cansaço. Ou melhor, a comunidade científica parecia ter começado a ficar cansada dele e ansiava por novidades. Em nenhum momento se conseguia atacar o behaviorismo mostrando algum tipo de incoerência ou falha teórica, mas era possível anunciar sua morte recorrendo àquilo que ele não podia fazer: abrir a famosa caixa preta que seria nossa cabeça. Quem se incumbiu desta tarefa foi a neurociência – uma neurociência ainda incipiente se comparada àquela que dispomos hoje.
A teoria da identidade mente-cérebro, defendida pela escola australiana, gozou de um sucesso efêmero, limitando-se praticamente a repisar a famosa equação [estados mentais=estados cerebrais] e a apostar que a neurociência, no futuro, provaria a verdade deste enunciado – uma neurociência que, entretanto, ainda não dispunha de instrumentos para observação da atividade cerebral in vivo, algo que se consolidaria só mais tarde com o advento da década do cérebro.
Estranhamente, porém os filósofos da mente, mesmo aqueles mais ambiciosos na defesa do identitarismo pouco parecem ter se importado com os problemas epstemológicos ou metodológicos que a neurociência apresenta e como estes poderiam afetar suas posições filosóficas.
[...] A ciência do cérebro deve ser concebida como uma ciência de como nós representamos nosso próprio cérebro, ou seja, de como falamos de