filosofia arte ciencia
Catarina Pombo Nabais
No seu último livro, intitulado O que é a Filosofia?, Deleuze e Guattari desenham uma cartografia do pensamento onde distinguem Filosofia, Ciência e Arte. Neste mapa, inscrevem as diferenças entre estas três dimensões do pensamento, mas também a sua natureza complementar. Entre elas não há hierarquia nem dependência. Deleuze e
Guattari afirmam-no claramente: «As três vias são específicas, tão directas umas como as outras, e distinguem-se pela natureza do plano e do que o ocupa. Pensar, é pensar por conceitos, ou então por funções, ou então por sensações, e qualquer um destes pensamentos não é melhor do que o outro, ou mais plenamente, mais completamente, mais sinteticamente ‘pensamento’»1.
Para Deleuze e Guattari, todo o pensamento é relação com o caos. O pensamento é o resultado de uma operação que se faz ao caos, é a própria composição do caos. Pensar, é dar consistência ao caos. Deleuze e Guattari definem o caos como um virtual que, enquanto velocidade absoluta, é nascimento e esvaziamento de todas as formas possíveis. «Definimos o caos menos pela sua desordem do que pela velocidade infinita com que se dissipa toda a forma que nele se esboça. É um vazio que não é um nada, mas um virtual, contendo todas as partículas possíveis e adquirindo todas as formas possíveis que surgem para de imediato desaparecerem, sem consistência nem referência, sem consequência»2. O caos não é o nada, mas um virtual na medida em que contém todas as formas possíveis. No entanto, em vez de ser um simples momento de actualização dessas formas, é também o momento da sua dissipação.
Deleuze e Guattari começam por definir o acontecimento como sendo a realidade do virtual. No entanto, a relação acontecimento/virtual nem sempre é a
1
2
Qu’est-ce que la Philosophie?, Paris, Minuit, 1991, p. 187 (nossa tradução).
QPh, p. 111 (nossa tradução).