Filosifia
Gilda Naécia Maciel de Barros
"Logo, estabelecemos uma lei que não era impossível nem comparável a uma utopia, uma vez que a promulgámos de acordo com a natureza. Mas as leis atualmente existentes é que são antes contra a natureza."1
A pergunta "Rainha filósofo na República de Platão? introduz três conceitos explosivos para os gregos antigos: mulher, poder e filosofia. Platão, ao admitir na República que a cidade-estado perfeita comporta a possibilidade de uma composição entre os três, tinha plena consciência disso. Vejamos como isso se dá.
A República procura responder a esta pergunta: O que é a justiça? Para respondê-la, o Sócrates platônico propõe como método de pesquisa estabelecer um paralelo entre o homem e a polis, pois, supondo que o Estado é o homem em ponto grande, encontrar o Estado justo implica encontrar o homem justo, conhecer o que é a justiça e seu contrário.
Confiado nessa linha de raciocínio, Sócrates e seus interlocutores apresentam a polis perfeita, a saber, aquela na qual deverá florescer a mais acabada justiça. Nessa polis, há três classes sociais: o povo, que produz; os guardiões, que protegem a cidade, defendendo-a de seus inimigos, de dentro e de fora; os governantes, que são por natureza os melhores homens: sábios, corajosos, temperantes e justos. A temperança é a excelência (areté) comum a todos os cidadãos; a coragem, comum aos guardiões e aos chefes; a sabedoria, exclusiva destes últimos. As pessoas estão assim distribuídas em função de sua natureza e do nível de sua educação. A todos os cidadãos é oferecida, desde o nascimento, uma mesma formação básica: ginástica para o corpo e para a alma, música, mas a formação do governante é diferenciada. Aos 20 anos, procedimentos seletivos encaminham as naturezas aptas a seguir adiante, para outro estágio de aprendizagem, que deve durar 10 (dez) anos, isto é, dos 20 aos 30 anos e compreende o estudo de aritmética, estereometria,