filoofia
A. P. Martinich
Universidade do Texas, Austin
1. Esboço da estrutura de um ensaio filosófico
Sócrates não era amigo daquilo que entendia por retórica. Ainda assim, dispunha-se a conceder que "Todo discurso deve ser construído como uma criatura viva, dotado por assim dizer do seu próprio corpo; não lhe podem faltar nem pés nem cabeça; tem de dispor de um meio e de extremidades compostas de modo tal que sejam compatíveis uns com os outros e com a obra como um todo" (Fedro, 264C). Estendendo o alcance da metáfora, assim como as partes do corpo têm diferentes formas e funções — braços, pernas, asas e chifres —, assim também as têm as partes do ensaio. Além disso, assim como diferentes animais exibem diferentes anatomias, assim também se passa com os ensaios filosóficos: alguns são mais complexos e invulgares do que outros. Todos, contudo, evoluem a partir de uma forma básica.
Neste livro, discute-se a forma mais básica do ensaio e os seus descendentes imediatos na escala da evolução. Todas essas formas têm cabeça, tronco e cauda. Em termos prosaicos, todo ensaio deve apresentar três partes: começo, meio e fim. Foi Winston Churchill, creio eu, quem o disse da seguinte maneira: diga o que vai fazer, faça-o, diga o que fez. Talvez já tenhas ouvido isso, e por uma boa razão: trata-se de uma verdade. Além disso, como um primeiro critério de especificação da estrutura de um ensaio, é uma valiosa observação. Mas esse truísmo seria objectável se não se dissesse nada mais sobre o que entra na estrutura do ensaio e como o autor pode construir uma. Faz-se necessário um guia mais informativo (vê abaixo) sobre a redacção do ensaio.
No guia mais informativo, o primeiro elemento, "diz o que vai fazer", e o terceiro, "diz o que fizeste", não sofrem modificações substanciais. Eles aparecem a seguir como segmentos I e V, respectivamente. O segundo elemento, "fá-lo", no entanto, divide-se em três segmentos, II, III e IV.
A estrutura de