Filologia
Mesmo numa grafia simples e bastante lógica, como é a da língua portuguesa, encontra-se uma letra com dois valores sônicos inteiramente diversos (como s em sala e asa), um som elementar possível de se indicar por mais de uma letra (como s em sala, cedo, próximo), uma letra que indica sons elementares combinados como sucede com x de fixo, ou, ao contrário, duas letras combinadas para um som elementar uno, como ch, lh, nh (acha, alho, anho, etc). Só pelos meados do século XIX é que, pelo menos de maneira sistemática e rigorosa, procurou-se surpreender diretamente a execução da fala, perceber bem as suas variações e classificar e classificar as qualidades sônicas encontradas. Com isso, criou-se uma disciplina para a descrição do mecanismo sônico das línguas, ou seja, a fonética.
Em primeiro lugar, a muitos de nossos grámaticos tem faltados o domínio da técnica fonética. Continuou a haver frequente a interferência da língua escrita e de suas letras, e as afirmações fonéticas foram muitas vezes confusas e irreais. A nomenclatura gramatical oficial, por exemplo, cometeu pelo menos dois erros fonéticos fundamentais. Imaginou as consoantes fricativas como uma subdivisão das constritivas; ora, trata-se de duas designações sinônimas (constrição do canal bucal com efeito auditivo de fricção) para uma subdivisão das consoantes contínuas (onde há continuidade de emissão de ar, ao contrário das oclusivas, quando o ar é momentaneamente interrompido por uma oclusão do canal bucal). Na descrição das vogais, por outro lado, foi esquecida a qualidade sônica decorrente da elevação variável da língua (vogais baixas, médias e altas); assim, omitiu-se para o português o traço diferenciador entre a vogal "i" alta e as médias "ê" e "é", da mesma sorte que entre "u" e "ô" e "ó".
A fonética surgiu no século XIX em linhas naturalísticas, comom um estudo das articulações orais e dos efeitos auditivos em si mesmos. Procurava surpreender a realidade física em toda a sua