Filmes censurados da ditadura militar
“O filme é inteiramente contra as instituições, com chamamento à revolução sangrenta’ em nosso país”
“A película contém mensagem esquerdista, contrária aos interesses nacionais"
"Cortar a pergunta ‘Onde a mulher tem os pelos mais encaracolados?’
As frases acima são trechos de relatórios da censura no cinema brasileiro. Em 1972, o setor começava a se profissionalizar no país. Aprovados mediante concurso, funcionários públicos passavam por um árduo treinamento de seis meses, onde praticavam tiro ao alvo e aprendiam os ideais marxistas. Era a primeira turma do curso de censores.
O endurecimento refletia um processo que se intensificou a partir do AI-5, mas que era norma desde o início da ditadura militar. Para poder vir a público, qualquer produto cultural – do teatro, cinema e música, entre outras áreas – precisava ser submetido à Polícia Federal e, mediante os pareceres (no mínimo três) de um comitê, autorizado ou não.
Todos os documentos relativos a esses processos foram entregues ao Arquivo Nacional no fim da década de 1980, na volta da democracia. Boa parte deles permanece encaixotado em Brasília, mas uma parcela do que se passava nos bastidores da censura dos filmes no país está online, no site do projeto "Memória da Censura no Cinema Brasileiro".
"Naquela época o cinema possuía uma visibilidade muito maior do que tem hoje, dividido entre televisão e TV a cabo. Existiam só três canais na TV aberta", lembra, em entrevista ao iG, a pesquisadora Leonor Souza Pinto, coordenadora do site. "Era uma força muito grande e é claro que a censura tinha um olhar peculiar em cima dele, por força da extensão que o cinema tinha, muito maior do que o teatro."
Em um primeiro momento, o perfil dos censores era essencialmente moralista, ligado às ideias conservadoras da Tradição, Família e Propriedade (TFP), que apoiaram o golpe militar. "De