Fichamento

Congresso Internacional do Medo
Mergulhado de vez no “sentimento do mundo”, Carlos Drummond identifica o medo como sensação predominante em todos povos.
“...existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro...”

Um medo que ocorre em todos os lugares, medo que acompanha os homens até a sua morte – a qual, ironicamente, também é temida, mesmo depois da morte.
“...medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos, o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas...”

O medo seria tanto que faria nascer uma flor amarela no túmulo dos medrosos (amarelo é uma cor relacionada à covardia).
“Depois morreremos de medo e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.”
Dessa forma, identifica-se uma crítica a uma sociedade se torna refém do medo: ela teme tanto os ditadores, quanto os democratas, não se decide por nada e acaba cedendo ao que lhe garantir mais segurança.

“...cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas, cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.”

Historicamente, fica evidente a importância do tal medo em apoio a golpes de estado, tão frequentes naquela época.
Percebemos, ainda, a quantidade de léxicos (que estão no mesmo campo semântico dos sentimentos (“amor”, “ódio”, “medo”) que se distinguem entre si no contexto do poema.
“...Provisoriamente não cantaremos o amor, que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços, não cantaremos o ódio, porque este não existe...”

Os ombros suportam o mundo
O poeta descreve um mundo que não há mais espanto, não há mais amor, nem sentimentos: tudo é racionalizado e mecanizado.
“Chega um tempo em que não se diz mais: meu
Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.”

Esta realidade no entanto pouco pesa sob seus ombros, já que sua vida ordena que ele prossiga, ainda que velho e solitário.
“Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus