SILVA, Maria Betty Coelho. Contar histórias: uma arte sem idade. 10 ed. São Paulo: Ática 1999. Há muito e muitos anos, ainda estagiários do Curso normal, tiveram meu primeiro e memorável contato prático com crianças. Era um dia de sol. As professoras, curiosas, deixaram suas classes para apreciar um espetáculo... Entrei em "minha sala" os tamancos cruzavam-se pelo ar. Não lhes devo ter causado impressão de "autoridade”. Tentei lembrar os ensinamentos dos professores de Didática. Toda teoria tão bem estudada não se enquadrava ali, naquele instante, num relance, a intuição: vou contar uma história. E comecei: -Era uma vez um macaquinho que... -Risos. E o silêncio se faz, interrompido somente para contarmos juntos... Quando a professora da classe retornou, tomou um susto ao perceber o silêncio em sua sala. Estavam entretidos e conquistados. Aprendi a primeira lição de magistério: ouvir histórias e contar são coisas de que as crianças gostam muito. Contar história ficou sendo a minha atividade predileta. É meu propósito prestar depoimento sobre uma vivência de muito e muitos anos, que tem sido um incentivo e uma gratificação para minha vida e se constitui num tesouro pessoal de valor inestimável. Sinto-me como um menestrel dos tempos antigos, a deslumbrar-me com a riqueza da comunicação que a oralidade oferece. Afinal quem não se lembra de alguma história ouvida na infância? Como toda arte, a de contar histórias também possui segredos e técnicas. No começo eu contava somente pelo gosto de contar para ver a criança feliz. Então passei a registrar os comentários, guardar os desenhos e as diversas manifestações de expressão relacionadas às histórias comparando, analisando, fazendo descoberta, um vasto material de estudos. Refiro-me a estudo no sentido sistemático, porque ‚ preciso levar a sério algo que provoca relevante impressão e exerce grande influência sobre as crianças. Toda aula tinha história, e ensinar literatura infantil tornou-se