Fichamento
A importância do sentimento de vergonha no agir e pensar morais. Embora a linguagem cotidiana estabeleça uma clara relação entre vergonha e moralidade, como o atestam expressões como: sem vergonha, ter vergonha na cara, e outras, a ciência psicológica dedicada ao estudo desta importante faceta da conduta humana tem desprezado tal relação. Na verdade, é o próprio sentimento de vergonha que tem recebido pouca atenção por parte dos pesquisadores, pelo menos até meados dos anos oitenta. Dizemos que o tema volta à tona por que a vergonha não somente foi tema de reflexões filosóficas desde Aristóteles, passando por Descartes, Rousseau, Kant e outros, como alguns autores não hesitaram em dar a este sentimento um lugar de destaque entre as paixões humanas.
A análise será feita em três momentos. Começaremos por definir uma perspectiva psicológica a respeito da moralidade (a personalidade moral) que nos permita integrar a dimensão afetiva (a vergonha é um sentimento) nos juízos e condutas morais dos seres humanos. Em seguida, debruçar-nos-emos sobre algumas características fundamentais do sentimento de vergonha, notadamente seu aspecto de auto juízo e sua relação com o ser. Finalmente, retomando o clássico conceito de honra (que também pode ser traduzido por dignidade e auto-respeito), estabeleceremos a relação entre a vergonha e o agir e pensar morais.
A Personalidade Moral é um lugar comum da Psicologia, dizer que razão e afetividade são inseparáveis, ou melhor, afirmar que, para se compreender as condutas dos homens deve-se tanto estudar sua inteligência quanto seus sentimentos.
Todavia, salvo melhor juízo, tal afirmação raramente ultrapassa o nível da petição de princípio: devemos pensar o homem nas duas dimensões cognitiva e afetiva, sim, mas como articulá-las? Se, por exemplo, com a Psicanálise, temos uma forte teoria das pulsões, ela pouco tem a nos dizer sobre o Ego.
Em resumo, pensamos que a dimensão afetiva, e sua articulação com a dimensão