Fichamento - Terra dos Homens - Cap. III
2170 palavras
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As geografias espontâneas, aquelas que se exprimem nas práticas e na habilidade de cada ser humano ou que traduzem as reações que este experimenta diante do mundo, da harmonia das suas paisagens, da grandiosidade dos cumes cobertos de neve ou das torrentes avassaladoras, se transmitem por imitação e de forma direta, de mestre a aprendiz, oralmente. Ali onde a escrita foi introduzida, ou também ali onde o desenho pode ser inscrito em suportes duráveis, esses conhecimentos tomam a forma de textos ou mapas. As habilidades ali são anotadas; as experiências dos lugares alimenta a poesia; as mitologias transcrevem as narrativas que falam das forças e dos seres que governam o mundo; a Revelação dá uma forma escrita à voz do Criador, do Deus supremo. Na Grécia, Homero e Hesíodo retomam os elementos da tradição oral e lhes dão uma forma que a escrita conservou. Seus poemas nos transmitem os saberes vernaculares da época arcaica: uma descrição do mundo mediterrâneo na Odisseia de Ulisses, uma evocação de seus povos e de suas cidades através do catálogo dos navios aqueus e dos efetivos troianos na Ilíada. Hesíodo descreve o quadro das práticas que têm efeito sobre a terra em Os trabalhos e os dias e analisa os mitos fundadores do cosmos e do mundo da Teogonia. Como depoimento do que era a visão do mundo de seus ancestrais, os gregos citavam de boa vontade uma passagem da Ilíada: a descrição do escudo Hefaísto tinha forjado para Aquiles. Tal deus: Representou a terra, o céu e o mar, O sol infatigável e a lua cheia, E todos os astros que coroam o céu... ( Ilíada, XVIIII, 480-610; apud Aujac, 1993a: 18-19). Esse deus “fez aí duas cidades muito belas...” ( Ilíada, XVIIII, 480-610; apud Aujac, 1993a: 18-19). A primeira oferecia o espetáculo da festa, das cerimônias, da justiça: ali se zelava pelo respeito da ordem cuja essência era sagrada. A segunda cidade era atacada; a astúcia e a força iam decidir sua sorte. A evocação da