Fichamento - spinoza 1978
Spinoza 1978
Eu quase gostaria que vocês tomassem esse pedaço de história da filosofia como não mais do que uma história. Afinal, um filósofo não é somente alguém que inventa noções, ele também inventa, talvez, maneiras de perceber. Vou proceder quase que por enumeração. Antes de mais nada farei algumas observações terminológicas. Suponho que a sala está relativamente misturada. Creio que, entre todos os filósofos dos quais a história da filosofia nos fala, Spinoza está numa situação muito excepcional: a maneira pela qual ele toca aqueles que entram em seus livros não tem equivalente. Eu conto uma história, pouco importa que vocês o tenham lido ou não. Começo com advertências terminológicas.
Primeiro ponto: o que é uma idéia? O que é uma idéia, para que possamos compreender mesmo as mais simples proposições de Spinoza. Sobre esse ponto Spinoza não é original, ele irá tomar a palavra idéia no sentido em que todo o mundo sempre a tomou. O que se chama idéia, no sentido em que todo o mundo sempre a tomou na história da filosofia, é um modo de pensamento que representa alguma coisa. Um modo de pensamento representativo. Por exemplo, a idéia de triângulo é o modo de pensamento que representa o triângulo. Sempre do ponto de vista da terminologia, é muito útil saber que desde a Idade Média esse aspecto da idéia é chamado "realidade objetiva". Em um texto do século XVII ou anterior, quando se encontra a realidade objetiva da idéia, isso sempre quer dizer: a idéia encarada como representação de alguma coisa. Diz-se da idéia, na medida em que ela representa alguma coisa, que ela possui uma realidade objetiva. É a relação entre a idéia e o objeto que ela representa.
Disso ele conclui imediatamente um primado da idéia sobre o afeto, e isso é comum a todo o século XVII; nem mesmo entrou-se ainda naquilo que é próprio a Spinoza. Há um primado da idéia sobre o afeto por uma razão muito simples: para amar é preciso ter uma idéia, por mais confusa que seja, por