Fichamento "Os Clássicos da Política" cap2

Os Clássicos da Política – Vol. I – Cap. 2
Francisco C. Weffort
Série Fundamentos

Nicolau Maquiavel: o cidadão sem fortuna, o intelectual de virtù

Depois de mais de quatro séculos da época vivida por Maquiavel, o clássico ainda está presente na atual política, religião e no cotidiano: “[...] o maquiavelismo está associado à ideia de perfídia, a um procedimento astucioso, velhaco, traiçoeiro [...] Personificando a imoralidade, o jogo sujo e sem escrúpulos, o ‘maquiavelismo’, ou melhor, o ‘antimaquiavelismo’ tornou-se mais forte do que Maquiavel”. Maquiavel é “ora apresentado como mestre da maldade, ora como o conselheiro que alerta os dominados contra a tirania”. “[...]sua preocupação em todas as suas obras é o Estado. Não o melhor Estado, aquele tantas vezes imaginado mas que nunca existiu. Mas o Estado do real, capaz de impor a ordem. [...] Seu ponto de partida e de chegada é a realidade concreta. Daí a ênfase na verità effettuale – a verdade efetiva das coisas. Esta é sua regra metodológica: ver e examinar a realidade tal como ela é e não como se gostaria que ela fosse. [...] O problema central de sua análise política é descobrir como pode ser resolvido o inevitável ciclo de estabilidade e caos”. Maquiavel rompe com o pensamento antigo e “[...] põe fim à ideia de uma ordem natural e eterna”, extraterrena ou do acaso. [...] Ao contrário, a ordem [...] deve ser construída pelos homens para se evitar o caos e a barbárie, e, uma vez alcançada, ela não será definitiva, pois há sempre, em germe, o seu trabalho em negativo, isto é, a ameaça de que seja desfeita”. É o resultado da força da ação concreta dos homens, ainda que nem todas racionais. “Ao perceber o que há de transitório e circunstancial no arranjo estabelecido em uma determinada ordem, monta um enigma para seus contemporâneos. Enigma que se recoloca incessantemente e que a cada significado encontrado remete a outra significação para além de si”. A fim de compreender o poder, “é preciso