Fichamento origens do totalitarismo - hannah arendt
1-O anti-semitismo como uma ofensa ao bom senso
-Muitos ainda julgam que a ideologia nazista girou em torno do anti-semitismo por acaso, e que desse acaso nasceu a política que inflexivelmente visou a perseguir e, finalmente, exterminar os judeus. O que os nazistas apresentaram como sua principal descoberta - o papel dos judeus na política mundial - e o que propagavam como principal alvo - a perseguição dos judeus no mundo inteiro - foi considerado pela opinião pública mero pretexto, interessante truque demagógico para conquistar as massas.
-Uma dessas apressadas explicações identifica o anti-semitismo com desenfreado nacionalismo e suas explosões de xenofobia. Mas, na verdade, o anti-semitismo moderno crescia enquanto declinava o nacionalismo tradicional, tendo atingido seu clímax no momento em que o sistema europeu de Estados-nações, com seu precário equilíbrio de poder, entrara em colapso.
-Os nazistas não eram meros nacionalistas. Sua propaganda nacionalista era dirigida aos simpatizantes e não aos membros convictos do partido. Ao contrário, este jamais se permitiu perder de vista o alvo político supranacional. O "nacionalismo" nazista assemelhava-se à propaganda nacionalista da União Soviética, que também é usada apenas como repasto aos preconceitos das massas. Os nazistas sentiam genuíno desprezo, jamais abolido, pela estreiteza do nacionalismo e pelo provincianismo do Estado-nação.
-O anti-semitismo alcançou o seu clímax quando os judeus haviam, de modo análogo, perdido as funções públicas e a influência, e quando nada lhes restava senão sua riqueza. Quando Hitler subiu ao poder, os bancos alemães, onde por mais de cem anos os judeus ocupavam posições chave, já estavam quase judenrein - desjudaízados -, e os judeus na Alemanha, após longo e contínuo crescimento em posição social e em número, declinavam tão rapidamente que os estatísticos prediziam o seu desaparecimento em poucas décadas.
-A perseguição de grupos impotentes, ou em