Fichamento Norberto Guarinello
“Os vínculos entre memória coletiva e história científica podem, na verdade, ser pensados em termos opostos. Podem ser vistos, em primeiro lugar, como uma relação positiva, pois a história produzida por historiadores, por especialistas da história, enriquece as representações possíveis da memória coletiva, fornece símbolos, conceitos, instrumentos rigorosos para que a sociedade pense a si mesma em sua relação com o passado. Mas podem também ser vistos sob um ângulo negativo, porque a história cientifica se volta regularmente contra as representações produzidas pela memória “espontânea” da sociedade, destruindo seus suportes, atacando seus princípios, seus pressupostos, seus símbolos.” (p.181)
“O passado, dizem, é algo inatingível, caótico e sem sentido. O esforço do historiador se reduz à tarefa de tecer uma trama aleatória, a construir uma narrativa com elementos encontrados, não apenas nos documentos, mas sobretudo nos textos de outros historiadores. Se tudo é texto, como diz J . Derrida, e se não existe nada fora do texto então a realidade como tal, externa ao texto, não existe.¹º” (p.184)
¹º DERRIDA, j., Gramatologia, São Paulo, Perspectiva, 1973, p. 194.
“Em primeiro lugar, porque o passado que investigamos não é, por assim dizer, um processo onírico e indeterminado, aberto a todas as significações, mas a condição mesma, concreta e positiva, de nossa existência presente. Nem é o historiador livre para criar passados, como se traçasse sua trama por caminhos desimpedidos, mas deve falar do passado através de documentos que são, também eles, bastante reais. Podemos coletá-los, consulta-los, analisá-los. É através de sua mediação, e só dela, que temos acesso às realidades passadas. Mas não é só isso: a história liga-se à realidade também por ser parte dela, por ser um produto social, produto de um lugar socialmente determinado e