Violência como espetáculo:
GUARINELLO, Norberto Luiz. Violência como espetáculo: o pão, o sangue e o circo. São Paulo: 2007. p. 125-132. O texto tem como objetivo analisar a violência na Roma Antiga focalizando as lutas entre gladiadores e traçar paralelos com a violência contemporânea. A violência não é um conceito preciso, nem mesmo um termo cujo sentido permaneça o mesmo na medida em que nos movemos no tempo e no espaço, entre culturas ou entre grupos de uma mesma cultura. Violência é uma palavra latina, derivada de vis, força., empregada em um sem número de sentidos. Ela só nos é presente, quando nos incomoda, quando está além do normal. Antes de ser um fato sociológico, é um fato antropológico, que se desvenda e se constrói na diferença, é também um fato histórico.
A prática social que combina a violência do derramamento de sangue e as emoções do espetáculo, sem que haja culpa são as lutas entre gladiadores. Diferente dos jogos coletivos, os jogos gladiatórios romanos eram combates pela vida.
A historiografia moderna procura construir uma nova compreensão dos espetáculos no mundo romano –momentos de diversão e prazer de ação política, religiosa, cultural e identitária. O gladiador fazia um juramento e se transformava num ser sagrado o qual dor e a morte deixavam de ser ameaças para se tornarem parte corriqueira da vida, verdade, deixando de ser angústia para se tornar honra. Honra e vergonha são a paixão que os gladiadores suscitavam no mundo romano. A vida transformava-se num combate glorioso, cujo fim, necessário, seria uma morte digna. O gladiador era a realização humana, um modelo para filósofos e religiosos. Esse modelo se aplicará, nos séculos seguintes, aos mártires cristãos, homens que desprezam a vida, que nos ensinam que ela é passageira, enfrentam a morte honradamente, nos ensinam o que é honra, que nos mostram o que é e como é viver dignamente.
A honra, o prestígio, a coragem e o valor não eliminavam a violência, ela é que