Ficha de Leitura Harvey
Na mais famosa obra do geógrafo David Harvey, publicada em 1989, são analisadas as mudanças ocorridas no seio da sociedade pela passagem da modernidade à pós-modernidade.
Em “A Condição pós-moderna” o autor lança mão de um argumento materialista histórico-geográfico para justificar sua tese segundo a qual a mudança no regime de produção de bens provocou profundas mudanças nas tendências da arte, da arquitetura, da filosofia, da política, enfim, nas formas de pensar, sentir e agir dos indivíduos.
Harvey argumenta que a modernidade organizou-se sob o modelo de produção fordista, iniciado em 1914, mas que demorou quase meio século para se estabelecer completamente. Este modelo de produção, ilustrado muito bem no clássico “Tempos Modernos” estrelado por Charles Chaplin, estabeleceu relações específicas dos indivíduos com o tempo e o espaço. Unidade de produção e de organização do sistema fordista é fábrica, onde os horários e as tarefas dos trabalhadores são rígidos. A produção é industrial e em massa, voltada aos recursos, de maneira que há sempre grandes estoques.
A crise do petróleo em 1973 mostrou que o fordismo não seria capaz de lidar com o problema da superacumulação. Desta maneira, um novo modo de produção surge, a acumulação flexível ou just-in-time, superando a rigidez do fordismo. O sistema de acumulação flexível reorganiza as relações de trabalho e as organizações sociais do tempo e do espaço. A unidade de produção deixa de ser a fábrica, as relações de trabalho se tornam mais dispersas e dinâmicas. O trabalhador precisa estar sempre atualizado e preparado para lidar com múltiplos problemas. A produção passa a basear-se pela demanda, de maneira que não há estoques.
Harvey argumenta que apesar da emergência de um paradigma completamente diferente no que diz respeito ao modo de produção e seus consequentes reflexos