Fernando Pessoa
Fernando Antônio Nogueira Pessoa (Lisboa, 13 de junho de 1888 - 30 de novembro de 1935), foi um poeta e escritor português do movimento literário Modernismo. Os trabalhos mais conhecidos são Mensagem e Heterônimos. Pessoa é considerado junto de Camões um dos mais importantes poetas da língua portuguesa.
AUTOPSICOGRAFIA
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.
O poema Autopsicografia foi escrito em 1930 e publicado em 1932, mas é datado de 1º de abril de 1931.
Observação:
Verificamos que Fernando Pessoa viveu na época do modernismo português, portanto presenciou conflitos que Portugal sofreu após a primeira guerra mundial. Na época da publicação do poema, Autopsicografia, Portugal estava vivendo uma ditadura com princípios autoritários. Enquanto o governo se ocultava, Fernando Pessoa buscava em seu poema o oposto do que Portugal buscava, o poeta desejava se conhecer, e por isso o título – Autopsicografia. O termo psicografia provém do espiritismo, prática essa na qual a pessoa recebe um espírito e escreve. Fernando Pessoa o recebe - o ‘eu lírico’, uma maneira do poeta se conhecer. O fato de Pessoa ter criado heterônimos, os quais segundo ele chegavam sem pedir licença, tem muito a ver com a espiritualidade do poeta.
ANIVERSÁRIO
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.