Fernando pessoa
Mapa astral de Ricardo Reis
Torna-se digno de nota, antes de tudo, que Fernando Pessoa, apesar de ter se revelado como um artista composto por vários “eu” poéticos, sobretudo no tocante à heteronímia, também assinou vários poemas com seu verdadeiro nome – caracterizados pelo que denominamos de poesia ortônima. Modalidade esta em que a pessoa aparece como ela mesma, perfaz-se de notórios traços ligados à tradição literária portuguesa, tais como o saudosismo, sebastianismo (sentimento relacionado ao desaparecimento de D. Sebastião) e o visionarismo em relação à nacionalidade lusitana – concepções intrínsecas à própria visão de mundo do poeta, concebida como politicamente conservadora.
Sua poesia de cunho nacionalista, composta em Mensagem, caracteriza-se como poemas épicos, os quais têm como unidade temática as grandes navegações. Nesses prevalecem um sentimento marcado por uma intensa melancolia em relação ao futuro de Portugal, visto como algo sombrio quando comparado como passado glorioso, demarcado pelas descobertas marítimas. Como bem nos retratam os excertos contidos no poema intitulado Nevoeiro:
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!
(Trechos extraídos da Obra Poética, Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1976)
No que se refere à produção lírica, esta se encontra manifestada em Cancioneiro, na qual são retratados temas ligados à infância, vida, arte, solidão, saudade, dentre outros, sempre associados a um clima nostálgico do passado em consonância ao tédio vivido pelo presente.
Grandes mistérios habitam
O limiar do meu ser,
O limiar onde hesitam
Grandes