Fernando Pessoa em Évora
Segundo a agência Reuters, o Excelentíssimo Senhor Fernando António Nogueira Pessoa, poeta português simbolista, modernista, saudosista, paulista, interseccionista, futurista e tudo está de visita à nossa bela cidade museu. O poeta, segundo o testemunho de alguns alunos do Liceu Nacional de Évora, passa as tardes no café Portugal, ponto de encontro de eborenses de várias idades e de todas as proveniências sociais e culturais, a ler e a escrever. O controverso artista terá até, na tarde de ontem, dedicado um poema a um famoso jogador de bilhar da terra ( o café tem no primeiro andar um grande e honrado salão de bilhares) o qual se passeou pela cidade gabando-se, aos gritos, da posse de tal texto. Por fim, num êxtase ébrio, o infeliz jogador de bilhar devorou o texto, sem que ninguém o pudesse, portanto, ter lido, e caiu de bruços na fonte da praça do giraldo. A polícia, na pessoa do Excelentíssimo Senhor Comandante Luís Fernando Apolíneo do Nascimento, mostra-se preocupada com os possíveis efeitos da presença do poeta em tão pacata cidade. Até porque, segundo consta nos meios artísticos eborenses, o pintor Almada Negreiros estará já a caminho e, " com esse não se brinca", diz o comandante da polícia.(Évora, 5 de Fevereiro de 1928, notícia da agência Reuters)
Finalmente, as honradíssimas autoridades eborenses conseguiram determinar o paradeiro do senhor Fernando António Nogueira Pessoa depois de este poeta lisboeta ter estado em paradeiro incerto durante dois dias e duas noites. As autoridades procuravam este insigne literato por toda a cidade pois suspeitavam que ele estaria por detrás das estranhas ocorrências registadas nas madrugadas do dia três e do dia quatro do corrente mês ( ontem e anteontem, respectivamente). De facto, nestas duas noites, grupos de jovens estudantes foram surgindo por vários pontos da cidade e, não respeitando nem o sossego da noite, nem a solenidade dos