Fazer uma marca. Didi-Huberman
Georges Didi-Huberman e Didier Semin
Fazer uma marca, todo mundo sabe o que é, todo mundo sabe fazer. Todo mundo, dia ou outro, o fez, em rastros de pegadas ou em castelos de areia na praia, em dedos manchados de tinta ou em frotagens com moedas sobre uma folha de papel.
Partindo desse tipo de evidência, a exposição que aqui submetemos desejaria, na medida do possível, manter algo dessa imediatez, dessa leveza primeira –desse jogo expresso tão bem na pequena canção aleatória, “Faire une empreinte…”, que Marcel Duchampcomporacom suas duas irmãs, um belo dia de 1913, a partir de notas tiradas ao acaso de um chapéu… A letra, em forma de injunção – injunção que muitos artistas do século XX iriam honrar com abundância – retomava, simplesmente, uma definição do dicionário (mas suprimindo sua pontuação, o que já era subvertê-la):Faire une empreintemarquerdestraits une figure sur une surfaceimprimerunsceausurcire1.
Esse pequeno jogo - “Fazer uma marca” – parece, aliás, fácil demais por necessitar materiais e gestos elementares: argila pressionada em uma forma, fixar o gesso sobre o corpo que ele molda, pigmentos aplicados em dendritos, manchas duplicadas como no teste de Rorschach, tramas reportadas pela frotagem, objetos abandonados à película sensível, tecidos enrugados e endurecidos, carimbos e selos de cera, aplicação dos dedos, mainsaupatron, antropometrias em movimento, traços sobre o solo, queimaduras, corrosões, pulverisações ao redor de um corpo que, ao ausentar-se, deixa visível – isolada – sua impressão negativa. Empenhamo-nos com a cumplicidade dos próprios artistas, em transmitir alguma coisa dessefazer que comporta toda a marca, e isso sem ter de enunciar antecipadamente alguma generalidade sobre o resultado desse fazer. Desse modo, começamos por privilegiar a experiência – a dimensão heurística (descobertas empíricas) – desconfiando de um certo número de axiomas – verdades tidas como evidentes e indiscutíveis – que circulam na