Faoro R
Aquestãonacional a modernização
Raymundo FAORO m 1915, num ensaio que faria época, acerca da Alemanha Imperial, Veblen celebrou, na corrida, entre as nações, pelo desenvolvimento, as vantagens do atraso (the advantages of backwardness). Inaugurava-se, com o paradoxo, um debate, que evocava um retalho de história do mundo, que até então permanecera na sombra, reservada a área luminosa às nações desenvolvidas. O paradoxo não acaba aí: se o país que, no começo da corrida, se situa nas últimas filas, e, por isso, privilegia a sua trajetória, há, correlatamente, o castigo da liderança
(The penalty of taking the lead). Entre as duas marcas — a que assinala o país atrasado e a que indica o paradigma — situa-se o fenômeno que se chama a modernização — que outrora, guardadas as diferenças de tempo e de estrutura histórica, constituiria a europeização ou a ocidentalização. Duas nações, na primeira metade do século XX, depois de uma arrancada que as destacou no mundo, eram os exemplares da modernização: a Alemanha e o Japão. Os dois países teriam, ao se industrializarem, assimilado e incorporado ao seu desenvolvimento a tecnologia dos países paradigmaticamente adiantados, queimando etapas, sem pagar, em termos sociais e econômicos, o alto e aflitivo preço que os ingleses pagaram pela conquista da liderança ( The portable Veblen. Pinguim Books, 1976). Não previra Vebien, embalado pela imagem de retórica — as vantagens do atraso —, um oxímoro que vale tanto como o
" contentamento descontente" de Camões, da eventual patologia, congenial às modernizações. O que ele supunha ser uma franja incidental se revelaria, nos meados do século, uma enfermidade, só extirpável com o desaparecimento da própria modernização, como fenômeno aderido ao país em desenvolvimento.
E
Haveria, dessa maneira, no país atrasado, um tempo célere, que encurtaria a distância para alcançar a primeira fila. Um tour de force o distinguiria do paradigma. No ponto de chegada, a diferença deixaria de