Famílias enredadas
Sandro o assalto 174
RESUMO. O sequestro do ônibus 174, ocorrido no ano 2000, no Rio de Janeiro. Configurou um momento decisivo no qual a sociedade real se chocou com a ideal. Ao ser exposto em cadeia nacional, Sandro Barbosa do Nascimento evidenciou que fazer parte da população de um país não significa necessariamente integrar a sociedade dele. O desenrolar dos acontecimentos mostrou o aparato repressivo do Estado, da sociedade e da mídia que permitem a perpetuação da desigualdade social.
O autor do crime, Sandro Barbosa do Nascimento, era um quase indigente, relegado à margem da sociedade. Sua mãe morreu quando ele ainda era criança, por isso foi morar na rua, junto com outras crianças órfãs ou abandonadas. Em 1993, sobreviveu chacina da Candelária, quando assistiu companheiros serem mortos por policiais militares. O momento do sequestro do ônibus 174 possibilitava que Sandro forjasse sua autoidentidade.No entanto, ao mesmo tempo, a sua presença abalava a autoidentidade da sociedade, revelando uma face que ela procura não mostrar: as consequências da exclusão social. Este artigo procura analisar, a partir do evento do sequestro do ônibus 174, como a sociedade reage quando enxerga em um de seus “espelhos humanos” uma ferida que deseja esconder e que quando aparece causa incômodos abalos em seu autoconceito. No dia 12 de junho no ano de 2000. Sandro, supostamente, pretendia cometer um assalto. Suspeitando de um possível crime, policiais militares interceptaram o veículo na frente do Clube Militar, no Jardim Botânico.A partir desse momento, a suposta tentativa de assalto transformou-se em sequestro. Outros policiais chegaram ao local para negociar a libertação dos 11 reféns. Durante as 4h e 20 min. de duração do crime, oito foram libertados.Várias emissoras de televisão, rádio e jornais. Grande número de curiosos também ficou no local para aguardar o desfecho da situação. Sandro decidiu, por conta própria, deixar o ônibus, levando