Familiares e reforma psiquiátrica
Até pouco tempo atrás, a assistência ao doente mental era restrita aos hospitais psiquiátricos, locais de prática do saber médico, onde se excluía todos os vínculos de interações do sujeito com a família e a sociedade. A exclusão acontecia por vários motivos, dentre eles a considerada eficácia no tratamento dentro dos hospitais, ou porque o doente mental representava um risco, dada a dificuldade de controlá-los no meio familiar (COLVERO; IDE & ROLIM, 2004). Por ser considerada prejudicial ao tratamento, a família foi afastada da assistência ao doente mental por não saber lidar com as adversidades da doença, por ordem emocional e financeira, e por manter um adulto considerado improdutivo e carente de necessidades em casa (PEREIRA, 2003). O doente mental afastado da família sofreu ações dos profissionais e dos serviços de saúde mental, não havendo participação dos familiares em seu tratamento, sendo excluído dos vínculos, das interações, de tudo que se configura como elemento e produto de seu conhecimento. A família era colocada a espera das intervenções, considerada apenas uma informante sobre a enfermidade e a trajetória do portador de transtorno mental (ROSA, 2005). O término da Segunda Guerra Mundial trouxe inúmeras transformações na sociedade que se refletiram também na assistência psiquiátrica, havendo grande interesse pelos aspectos sociais e familiares. Na segunda metade do século 20, assistiu-se a um movimento orientado pelo “esforço da desinstitucionalização: o doente mental deve deixar os hospitais e retornar à sua comunidade”. Surgiram modelos de intervenção que visavam reduzir ou eliminar a utilização de hospitais psiquiátricos trazendo, entre outras conseqüências, a família para o cenário da assistência (ROSA, 2005). Pesquisas realizadas na Europa e nos Estados Unidos, nas décadas de 1940 e 50 e, especialmente, na década de 60, voltaram olhares para a família, que buscavam