Familia arawete
Os Araweté se casam muito cedo, as mulheres por volta dos 12 anos, os homens, dos 15; as uniões são muito instáveis até o nascimento do primeiro filho (o que se dá por volta dos dezesseis anos para as mulheres), quando então se tornam sólidas e dificilmente se rompem antes da morte de um dos cônjuges. Como não se concebe a vida de uma pessoa adulta fora do estado matrimonial, dificilmente alguém fica solteiro por muito tempo: pessoas mais velhas, assim que enviúvam, costumam formar uniões com jovens que ainda não atingiram a idade de casar com alguém de sua faixa de idade. É assim relativamente comum ver homens de sessenta anos morando com meninas de dez anos, ou de mulheres de 50 anos com rapazolas de doze. Trata-se de arranjos sobretudo econômicos, em que o casal funciona como uma unidade de residência, de produção e consumo alimentar; mas os jogos sexuais não estão excluídos.
O termo genérico para "parente" é anî, que em sua acepção mais restrita denota os irmãos de mesmo sexo que ego; meus parentes são meus di, meus "outros-iguais", gente semelhante a mim. O termo para "não-parente" é tiwã, cuja determinação genealógica mais próxima são os primos cruzados de mesmo sexo; os tiwã são amite, gente "diferente". Tiwã é um termo ambíguo. Ele traz uma conotação agressiva ou 'picante', e não se costuma usá-lo como vocativo para um outro Araweté. Ele indica uma ausência de relação de parentesco, um vácuo que pede preenchimento. Um tiwã é uma possibilidade de relação: um cunhado ou um amigo potenciais. Os tiwã se tratam apenas por nomes pessoais. Tiwã é o vocativo com que os Araweté tratam os brancos cujo nome desconhecem; e é o termo de tratamento recíproco entre um matador e o espírito do inimigo morto. Aplicado a não-Araweté, ele particulariza a 'relação' genérica negativa que há entre os bïde e os awî. Chamar alguém pelo vocativo awî é impensável, pois awî são seres "para matar" (yokã mi), com os quais não se fala; chamar um inimigo de tiwã, assim, é criar