Viveiros de Castro - Araweté
CASTRO, Eduardo Viveiros de Areweté: O povo do Ipixuna. São
Paulo, CEDI, 1992. 192 pp
Embora fruto de uma pesquisa antropológica de fôlego, o agradável livro de Eduardo Viveiros de
Castro, Araweté: o povo do Ipixuna, constitui uma versão, digamos "popular". de sua tese de doutorado (feita no Museu Nacional), sobre um dos povos indígenas brasileiros menos conhecidos (haverá algum bem conhecido?!), os Araweté, grupo tupi-guarani de caçadores c agricultores. Viveiros de Castro quis registrar para os estudiosos dos problemas dos primitivos habitantes do
Brasil, especialmente "para o público não especializado", o que ele havia escrito de modo mais denso em sua tese, defendida em 1984 e publicada em 1986 (Araweté os deuses canibais. Rio de Janeiro, Zahar/
ANPOCS, 744 pp). Conseguiu fazêlo sem perder o rigor c de forma didática e cuidadosa, mostrando a realidade de um mundo incrivelmente diferente do nosso e situado bem na nossa porta. Na verdade, essa tem sido a percepção de quem convive
*Economista, Superintendente do Instituto de Pesquisas Sociais da Fundação
Joaquim Nabuco em Recife.
com os nativos brasileiros desde que
Pero Vaz de Caminha, em sua bela carta ao rei de Portugal, na chegada da frota de Cabral a Porto Seguro, em abril de 1500, captou a visão dessa gente que habitava o país desde muitos milênios, antes que a Europa enviasse para cá seus exploradores: a da enorme diferença entre o índio "primitivo"e os brancos "civilizados". A respeito dos Araweté,
Eduardo Viveiros de Castro mostra como "Conviver com os Araweté é uma experiência fascinante. Poucos grupos humanos, imagino, são de trato tão ameno, e convívio tão divertido (p. 154)".
Ao longo do livro, que se lê com o maior interesse, é essa a impressão que fica de um povo. que só conseguiu ter contatos oficiais com a sociedade brasileira cm 1976. Aliás, como sempre nesses casos, através de uma experiência traumática descrita no livro, em que