Falta de objeto, Lacan, Narcisismo e Nachträglichkeit
O ensino de Jacques Lacan coloca para si e para a psicanálise, nos primórdios do que se consagrou como seu Seminário, um horizonte ousado que ficou conhecido pelo nome de Retorno a Freud, à inovação freudiana, à experiência-limite que fez Freud inaugurar aquilo que não tinha em seu tempo nem condições de perceber e desenvolver plenamente (por conta, no caso, da falta do contato com a linguística estrutural).
O que seria esse retorno à verdade freudiana? Lacan responde em uma conferência intitulada Freud no Século: “A psicanálise devia ser a ciência da linguagem habitada pelo sujeito. Na perspectiva freudiana o homem é o sujeito preso e torturado pela linguagem” (1988, p.184). Essa linguagem, podemos complementar o dito de Lacan, nunca deixou porém de comportar e nos abrir para certa leveza, para a ludicidade que permitiu ao conferencista ter encerrado sua fala citando uma piada de Freud sobre seu voto de nunca ter nascido. Esse relato de pesquisa é o de um tratamento que pudemos dar a certa ideia que nasceu na leitura de Freud, mas que solicitou em seu caminho um afastamento de Freud para que pudéssemos retornar a ele sob a lente lacaniana. Posso lhes dizer, já, que o conceito em questão é o de objeto, na medida em que ele se articula com o conceito analítico de Narcisismo, mas que encontra em Freud. Aí incide, muitas vezes, a leitura lacaniana.
Há três anos, quando isso começou, eu cursava uma disciplina na faculdade de filosofia, com o professor Vladimir Safatle, que girava em torno do seguinte: o indivíduo é uma categoria historicamente datada1. Ali, a unidade das condutas e das ações aparecia entre as exigências ao indivíduo, e era problematizada. Para isso entrava um texto cuja leitura à época eu não perdia a oportunidade de protelar: zur Einführung des Narziβmus, de Freud, publicado nos arredores do ano de 1914.
Aposto sempre que a