Eça e o impressionismo
Fonte: http://www.instituto-camoes.pt/revista/ecaimpressionsm.htm
António Garcez da Silva Zola pintado por Manet, em 1868. Musée d'Orsay, Paris. |
Na Primavera de 1885, Eça de Queirós assistia em Paris, à abertura do Salon. Numa carta a um amigo (D. José da Câmara), figuram comentários que nos permitem avaliar a visão que tinha da pintura do seu tempo: «Assisti à abertura do Salon onde havia muito talento, muito "savoir-peindre", mas nenhuma página original e forte – a não ser um quadro do grande Roll, o pintor naturalista, que apresenta um "chantier de travail" poderoso e grandemente feito». É de estranhar que a presença de Manet, Monet e Pisarro, os pintores da nova escola impressionista que tanta polémica causou na altura, não tivessem aguçado a curiosidade intelectual de Eça e merecido um comentário crítico.
Todavia, observam-se particularidades muito curiosas no estilo queirosiano, em perfeita conexão com o impressionismo pictórico do seu tempo. Estes dois temperamentos, combinavam-se de tal modo que davam lugar, ao frequente uso metafórico da expressão pintar, em vez de descrever: «Eu não posso pintar Portugal em Mewcastle»; ou: «São pinturas um pouco cruéis da vida literária de Lisboa».
A criação de uma verdadeira pintura em prosa, característica fundamental da arte literária de Eça de Queirós e que adquire magnífica qualidade artística nalgumas páginas dos seus romances, revela-se cedo, na descrição da viagem ao Oriente, em 1869, tinha o escritor pouco mais de vinte anos. Nestes escritos de viagem, Eça traduz admiravelmente a impressão momentânea, a nota fugidia, mas impressiva, o jogo entre as formas, as cores, a luz e até os sons . O escritor – sem aliás nunca manifestar interesse pela pintura impressionista – confessa, o seu impressionismo, quando se refere ao processo literário de traduzir «os mais fugidios tons de luz», ou ao processo de «surpreender a realidade exterior das coisas nos seus tons flagrantes, ou aos