Exclusao socioeconômica e violência urbana
SOCIOLOGIAS
DOSSIÊ
Sociologias, Porto Alegre, ano 4, nº 8, jul/dez 2002, p. 84-135
Exclusão socioeconômica e violência urbana 1
SÉRGIO
ADORNO*
O contexto mais amplo
E
x-colônia portuguesa, a sociedade brasileira conquistou sua independência nacional em 1822 sob um regime monárquico. Suas bases socioeconômicas e políticas repousavam na grande propriedade rural, monocultora e exportadora de produtos primários para o mercado externo; na exploração extensiva de força de trabalho escrava, alimentada pelo tráfico internacional de negros desenraizados de suas tribos e comunidades de origem no continente africano; na organização social estamental (Weber, 1971;
Fernandes, 1974) que estabelecia rígidas fronteiras hierárquicas entre brancos, herdeiros do colonizador português, negros escravizados, homens livres destituídos da propriedade da terra e populações indígenas. Esses fundamentos sociais conformaram uma vida associativa isto é, padrões de socialidade e de sociabilidade constituída em torno do parentesco, da mescla de interesses materiais e morais, da indiferenciação entre as fronteiras dos negócios públicos e dos interesses privados, no adensamento da vida íntima, na intensidade dos vínculos emocionais, no elevado grau de intimidade e de proximidade pessoais e na perspectiva de sua continuidade no tempo e no espaço, sem precedentes (Adorno, 1988, p. 28).
1 Originalmente preparado para o ciclo de conferências Sociedad sin Violencia, promovido pelo PNUD El Salvador, abril
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Sociologias, Porto Alegre, ano 4, nº 8, jul/dez 2002, p. 84-135
Por sua vez, o poder político encontrava seus fundamentos institucionais no patrimonialismo, isto é, uma estrutura de dominação cuja legitimidade esteve assentada nas relações entre grandes proprietários rurais, representantes do estamento burocrático e clientelas locais às quais se distribuíam prebendas em troca de favores ou de apoio político. Vale dizer,
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