Eutanasia
Douglas Blanco
“ ‘A contínua obra de nossa vida é construir a morte’, diz
Montaigne. (...) Essa trágica ambivalência pela qual o animal e a planta apenas passam, o homem a conhece, ele a pensa.”
(Simone de Beauvoir, 2005)
Introdução
A Bioética vem se debruçando sobre um amplo leque de problemas relativos ao processo vida-morte.
O que importa para a Bioética é o que se passa entre o estar vivo e o estar morto; a passagem entre a vida e a morte delineados pela tecnologia. Dentre as questões cruciais que se inserem nesse panorama mais amplo da bioética do fim da vida, está a eutanásia, em seu sentido literal: boa morte (um passamento sem dor e sem sofrimento).
Para a bioética importa pensar a vida; o processo de morrer, suas implicações, a autonomia do sujeito no final da vida, a dignidade nesta etapa.
Introdução
A morte não é apenas um acontecimento possível, é um acontecimento necessário; não é apenas um acontecimento com alguma gravidade, tem para o homem a gravidade absoluta.
A partir da atualização da morte em nossa vida, lançamos uma certa forma de olhar que sobre nós mesmos.
“Não é da morte que temos medo, mas de pensar nela.”
(Sêneca)
A morte foi e continua sendo um tópos da filosofia; encontramos a meditação (meléte thanátou) sobre a morte em Platão e nos pitagóricos. O fim da vida
Michael Foucault
Cultura antiga - Meléte thanátou – meditação ou exercício da morte: ela não consiste em uma simples evocação de que estamos destinados a morrer. É uma maneira de tornar a morte atual na vida.
Sêneca: o exercício da morte consiste em viver a longa duração da vida como se fosse tão curta como um dia e viver cada dia como se a vida inteira nele coubesse.
A meditação sobre a morte permite ao indivíduo que perceba a si mesmo, e se perceba de duas maneiras:
1ª) Uma espécie de visão do alto e, instantânea sobre o presente, um corte na duração da vida.... e a partir dessa interrupção da morte, serão revelados o valor do que estou