Eurasianismo
Dídimo Matos1
Os homens mais espiritualizados, sendo os mais fortes, encontram a sua felicidade onde os outros encontrariam a sua destruição: no labirinto, na dificuldade contra si mesmos e os outros, em experimentos. A sua alegria está na autoconquista: o ascetismo é para eles uma necessidade, instinto, é a sua natureza.
Nietzsche
O Eurasianismo
Começaremos por ver em quantos sentidos o termo eurasianismo pode ser, e é, utilizado na literatura geopolítica sobre o tema.
O termo eurasianismo surge pela primeira vez no século XIX, cunhado pelo movimento eslavófilo que buscava juntar a rica diversidade da Eurásia2, numa espécie de outra via que não a européia ou asiática, e que juntasse a cultura e tradição da Ortodoxia e da Rússia. Esse foi, pois o seu primeiro uso.
Mais adiante tais ideias foram retomadas, logo após a I Guerra Mundial, por figuras como o filólogo e etnólogo Nikolai S. Trubetskoy, pelo historiador Peter Savitsky, pelo teólogo ortodoxo G.V. Florovsky e, mais a frente, pelo geógrafo, historiador e filósofo Lev Gumilev, que defendia a luta cultural e política entre, de um lado, o Ocidente e, do outro, o distinto sub-continente da Eurásia3, guiado pela Rússia. Gumilev foi o criador duas teoria: i) a da etnogénese, pela qual as nações são originárias da regularidade do desenvolvimento da sociedade, e ii) a teoria da paixão, sobrea capacidade humana para se sacrificar em prol de objetivos ideológicos.
Estes teóricos do eurasianismo, estudaram de modo aprofundado os impérios de Gengis Khan, Mongol e Otomano, e se encontraram mais de uma vez com Karl Haushofer. Baseado ainda na produção de Mackinder, esse primeiro eurasianismo, procurou estabelecer a identidade russa, distinta da ocidental e propugnam uma fusão das populações muçulmanas e ortodoxas. Rejeitaram a proposta de integração russa à Europa, de Pedro, o Grande. Defendiam que a Rússia era, claramente, não europeia, que era um continente em si, separado objetivamente,