EUCLIDES DA CUNHA E CASA GRANDE E SENZALA: RUPTURAS E CONTINUIDADES
Em ambos os livros, Os Sertões e Casa Grande & Senzala, a memoria privilegia o tempo remoto, enquanto as imagens do futuro são raras. A valorização do passado aproxima as duas notáveis interpretações do Brasil, e as coloca em clara oposição às obras que se baseiam nas concepções modernas e progressistas de tempo.
Euclides da Cunha e Gilberto Freyre, cada um à sua maneira, elaboram a ideia de um tempo primeiro da realidade brasileira, concebem uma experiência singular de homens concretos, suas instituições, organizações, qualidades, festas e sofrimentos. A guerra de canudos para Euclides da Cunha, e o complexo Casa Grande e Senzala para Gilberto Freyre, formam a história original de cada um e de todos os brasileiros.
A construção de Os Sertões se baseia na recordação de um conflito que dizimou uma grande quantidade de pessoas. Considerado uma das obras-primas da literatura brasileira, publicado em 1902,cinco anos após a campanha de Canudos, cujo trágico desfecho Euclides da Cunha testemunhou como repórter de O Estado de São Paulo, apresenta não só um completo relato da Campanha de Canudos, mas apresenta ainda, um admirável estudo da terra e do homem do sertão nordestino, das condições de vida do sertanejo, da sua resistência e capacidade, de acordo com a visão de Euclides da Cunha. Ele foi o único jornalista que atentou para a valentia dos jagunços. A obra Os Sertões é referencia obrigatória para se entender o Brasil, uma vez que o autor transforma o sertanejo em cerne da nacionalidade brasileira.
A partir das observações sobre o sertanejo contidas na obra Os Sertões, o historiador Clóvis Moura concluiu que Euclides da Cunha defendia: que o negro não possuía o espírito rebelde do índio, daí aceitar o status em que se encontrava; o meio físico era uma camisa-de-força que determinava, junto ao fator racial, o desenvolvimento das sociedades, retardando-as ou impulsionando, o negro era um