Eu sempre soube que era gay Salvo Automaticamente

Por: Luisa Vinagre

O relato de um hétero

Eu sempre soube que era gay, mas haviam muitas coisas que me impediam de admitir para as pessoas, para o mundo e para mim mesmo. Eu não podia me reconhecer como uma daquelas pessoas nojentas a quem minha irmã se referia quando via um casal homossexual se beijando ou como um daqueles anormais que, segundo os meus pais, não deveriam aparecer tanto na televisão. Eu não queria ser aquilo de que os meus amigos costumavam usar como xingamento – alguns deles faziam brincadeiras comigo que me deixavam triste. Então, eu decidi que deveria ser hétero.
Na minha infância e adolescência, eu me esforcei para ser hétero, fazia tudo o que podia para não ser aquele “viado” rejeitado por todos. Eu fiquei com garotas do meu colégio e tinha amigos populares - eu era um hétero. Tive uma namorada na escola, que permaneceu comigo por quase quatro anos e nós nos amávamos recíproca e verdadeiramente. Era um namoro inocente, contudo, nunca foi normal. Nós vivíamos em um mundo paralelo, cheio de sonhos, metáforas e términos. Já haviam se tornado parte de nossa rotina, as brigas e as reconciliações das mais diversas, acho até que gostávamos daquilo. Nós tínhamos tudo para formar um casal “perfeito”: Uma moça e um rapaz, muito parecidos em tudo, amantes da arte, do amor e dos sonhos, imaginando um futuro com a família perfeita. Ela era fofinha, fazia o meu tipo, magrinha e tudo mais. Além da sua inteligência que me deixava inspirado, ela era criativa e tinha uma ingenuidade... Era a melhor coisa dela. Via uma pureza no mundo e nas pessoas e ligava pouco ou quase nada para o que estava fora delas e sim para o que tinham por dentro - acho que isso era o que mais me encantava.
Em 2011, no nosso último ano do ensino médio colegial, estávamos ansiosos com a formatura, as despedidas, o vestibular e tantas outras coisas que nos esperavam. Eu estava vivendo uma fase boa do relacionamento, até entrar em uma de minhas crises existenciais. Fiz muitas perguntas