Etologia e motivação
Artur Cardoso
A Perspectiva Etológica e o Modelo Hidrodinâmico Da Motivação
Os etologistas estão decisivamente orientados para o sujeito animal e para a valorização de tudo que no seu comportamento aparece como espontâneo. Procuram as forças internas do organismo susceptíveis de explicar os comportamentos que Whitman (1898) e Heinroth (1911) denominaram "movimentos endógenos", ou seja, comportamentos resultantes de alterações do organismo, sem estímulo visível do meio. Estas forças internas constituem o essencial da motivação, que tem como efeito baixar o limiar de respostas e, quando é máxima, pode inclusivamente originar comportamentos sem estímulo exterior (overflown activities).
Nas situações mais habituais, porém, a carga energética interna só dá origem a comportamentos quando auxiliada por um estímulo externo, que apoia a deslocação da "válvula", ou seja, dos travões naturais do comportamento. Quer dizer, o estímulo contém em si próprio alguma energia, combinável com a do organismo. O o famoso princípio da cooperação das duas ordens de forças na produção do comportamento. Esta ideia de que o comportamento resulta da conjugação variável de forças internas com estímulos externos tem, do ponto de vista aqui adoptado, um interesse próprio, devido à maneira como alguns etologistas interpretam a natureza das forças envolvidas.
Assim, as forças internas são expressamente denominadas motivação e resultam da acção hormonal, das sensações proprioceptivas e dos influxos automáticos produzidos ritmicamente pelo sistema nervoso.
Mas, embora estas forças possam ser suficientes para desencadear comportamentos, e mesmo comportamentos bruscos, explosivos, a verdade é que, na maioria das situações, é necessário o recurso à compreensão do contexto ou da relação com o meio para