Etnografias portuguesas, joão leal, resumo
As etnografias portuguesas no seu percussão entre 1870 e 1970 podem ser vistas como parte integrante de um processo que, recorrendo à terminologia proposta por Beneditic Anderson sisa a construção de Portugal como uma «comunidade imaginada». Pois a antropologia portuguesa é uma antropologia comprometida, antes do mais, com um discurso etnogenealógico de identidade nacional. Enfatizando a nação como uma comunidade de descendência e destacando o papel que a cultura vernácula, a língua e os costumes populares desempenhariam na sua definição, o método etnogenealógico teve entre os antropólogos, os etnólogos e os folcloristas os seus «intelectuais orgânicos» por excelência. Nesse seu empreendimento etnogenealógico, os etnógrafos e os antropólogos portugueses, deram particular relevo, antes do mais, à etnogenealogia no seu sentido mais estrito da palavra, isto é, a uma análise histórico-genética da cultura popular susceptível de enraizar a identidade nacional portuguesa no tempo ao longo da etnicidade. Por fim, os etnógrafos e os antropólogos portugueses foram também essenciais no processo de «objectivação» da cultura popular portuguesa, isto é, da sua transformação num conjunto de aspectos, traços e objectos que, retirados do seu contexto inicial de produção puderam funcionar como emblemas da identidade nacional.
Parte I: À procura do povo português
Capitulo 1: A antropologia portuguesa entre 1870 e 1970: Um retrato de grupo
Para George Stocking existem duas tradições distintas no processo de desenvolvimento da antropologia a partir do séc. XIX: 1) uma tradição antropológica de «construção do império» e 2) uma tradição antropológica de «construção da nação». Em Portugal, apesar da existência de um império e da inexistência de um problema nacional, foi entretanto como uma antropologia de construção da nação que a antropologia se desenvolveu e afirmou na cena cultural e intelectual portuguesa a partir das décadas de 1870 e 1880. Nascida