Etnoconservação: novos rumos para a conservação da natureza
Marie Roué (p.78)
O vento da insustentabilidade sopra sobre a humanidade anunciando possíveis mudanças no clima do planeta. As nuvens que se aproximam trazem de volta à cena a discussão sobre a conservação da natureza por meio da criação de reservas naturais, porém focalizando a possibilidade de "seqüestrar o carbono" e suavizar os possíveis problemas decorrentes do efeito estufa. Vários projetos têm sido propostos desconsiderando questões relevantes sobre a conservação da natureza que são abordadas neste livro, organizado por Antonio Carlos Diegues. O livro reúne textos produzidos por antropólogos, historiadores, filósofos, cientistas políticos e naturais, de várias partes do mundo, que questionam os modelos de conservação fundamentados na ausência do ser humano, os interesses subjacentes à conservação do mundo selvagem que transformam a conservação da natureza em negócio, os princípios científicos e políticas que orientam a legislação das reservas, e a própria produção do conhecimento científico marcada durante certo tempo pela negação e exclusão do conhecimento dos povos tradicionais.
Há fortes indícios de que os modelos adotados no Brasil, e em outros países em desenvolvimento, em parte importados de países desenvolvidos que apresentam uma realidade distinta da nossa, têm fracassado inclusive no que concerne à proteção da biodiversidade. Os autores narram inúmeras situações de conflitos com as comunidades locais que foram gerados com a implantação de reservas ou parques. O pesquisador indiano Ramachandra Guha destaca que, na Índia, por exemplo, a instalação de reservas criou problemas para as comunidades mais pobres como a falta de água, pastagens e combustíveis resultando em um empobrecimento da população e, inclusive, intensificando a degradação ambiental.