Etnocentrismo
Nos anos oitenta passei algumas semanas em uma comunidade indígena do Amazonas, a aldeia Sateré-Mawé, próximo a cidade de Tefé (AM). Estava no local em virtude do trabalho, nada tinha a ver com pesquisa no campo da Sociologia e Antropologia, que anos após vim a me interessar. Portanto, este depoimento segue a visão da sociedade em que vivia, sem qualquer análise antropológica ou histórica daquela comunidade. Ao nascer do dia, observei um casal que saía para suas atividades. O homem carregava uma arma de caça e sua companheira uma rede, o remo, e mais algumas ferramentas. Aproximaram-se da margem do rio e a mulher realizou todos os trabalhos da preparação do barco, embarque dos materiais e posicionou o barco para zarpar, seu companheiro ajeitou-se na popa do barco, em seguida ela embarcou, apanhou o remo e conduziu com maestria o barco para uma pequena ilha no meio do rio Solimões. Resolvi observar os acontecimentos e sem demonstrar intenção acompanhei, em outro barco, as atividades. Chegando a ilha, a índia desembarcou, retirou a rede, os remos e as ferramentas, enquanto seu companheiro saía em busca de uma caça. Realizada as tarefas de desembarque, sua companheira foi ao seu encontro e juntos aprofundaram-se na mata. Ora colhendo uma fruta, ora arrancando uma raiz, a índia ia juntando as coisas coletadas dentro de uma sacola que carregava pendurada em seus ombros. Passado algumas horas observei o índio em posição de tiro apontando provavelmente uma caça, ouvi um tiro e imediatamente a índia dirigiu-se aos pés de uma grande árvore e retornou carregando um macaco que fora abatido. Prosseguiram ainda por algumas horas em busca de novas oportunidades, porém, não ouvi nenhum tiro. Próximo ao meio da tarde o casal dirigiu-se para a canoa, a mulher carregando a caça, a rede, a sacola com o material coletado e o macaco que já fora “limpo” e preparado para ser assado, pendurado no outro ombro. O homem carregava