Etica
Uma foto, publicada no jornal "O Globo" no início de setembro, deixou os leitores indignados. O corpo de um turista cego, que morreu afogado na Praia Vermelha, ficou horas no calçadão, enquanto não era removido. Mas esse estranho elemento em um dos cenários mais bonitos do Rio de Janeiro não abalou os outros visitantes. Eles simplesmente ignoraram o cadáver ao lado.
“Você vê que as pessoas estão sorrindo. Elas fotografavam, passavam, brincavam, transitavam ao lado do corpo. É como se não estivesse ali. Essa indiferença, esse descaso, é que me chamou a atenção”, conta o fotógrafo Michel Filho.
Por que esta cena não foi capaz de afetar as pessoas em volta?
A relação entre ética e indiferença é o tema de hoje da série Ser ou Não Ser. "Indiferença" é uma palavra que não faz parte da vida de Áurea, uma assessora parlamentar de Brasília que hoje lida com a questão indígena. Ela já perdeu a conta de quantas vezes abriu a porta de casa para índios, meninos de rua, ou qualquer um que precisasse de ajuda. “A pessoa fala assim: ‘Ah, você mexe com índios, né? Você mexe com crianças de rua’. Eu falo: ‘Não, eles é que mexem demais comigo’”, conta Áurea.
Áurea teve sete filhos de três casamentos. E assim, ela formou uma grande família de artistas e músicos: Abaetê, Jandira, Flora, Zé, Caetano, Dario e Julia. “O resultado disso, eu quero dizer, é de bênção. Eu sou uma pessoa sete vezes abençoada”, agradece Áurea. “A gente sempre foi criado muito solto, minha mãe estava sempre trabalhando, a gente ficava aqui nesse caos. Agora, quando tinha alguma repreensão, era interessante porque - isso é uma coisa que eu lembro até hoje - minha mãe sempre batia numa coisa de caráter”, lembra Zé, hoje designer gráfico.
Como tantas outras mães, Áurea sempre se esforçou para que os filhos