Etica e politica
Nilson Borges Filho
I
“Farsante, ladrão, revista ele”, foram estas as palavras de ordem do povo que se comprimia na Praça dos Três Poderes para acompanhar a derrocada de um presidente eleito por 35 milhões de brasileiros, dois anos antes, após um conturbado e longo processo de “impeachment”. Collor de Melo, em campanha, se apresentava como candidato moderno, a mais pura imagem do político jovem, atlético e elegante. Época em que tudo o que era novo, era moderno e bom. Atirava contra todas as frentes, desde a da burguesia, que pagava a conta de sua campanha milionária, aos militares, amedrontados com a possibilidade de um Lula ou Brizola assumirem o comando Supremo das Forças Armadas. No entanto, por trás daquela “imagem moderna”, escondia-se o político tradicional, arcaico, clientelista, corrupto e prevaricador. Faz-se justiça, pois poucos foram os políticos brasileiros que conseguiram trabalhar de forma tão competente com o imaginário popular. Sua campanha foi dirigida aos “descamisados”, classe social que vive à margem do mercado de trabalho , em número de hoje, de 32 milhões de indigentes, segundo fontes do próprio governo. Atacava os “marajás”, minoria de funcionários públicos encastelados na estrutura governamental com altos salários. O empresariado e as elites, como gostava de afirmar, constituíam-se nas principais causas do atraso brasileiro, mais interessados no lucro fácil do que nas condições sociais da maioria da população. O tom do discurso, sem sombra de dúvida, era de oposição. Com isso, tentava recuperar o discurso de outros candidatos situados à esquerda do espectro ideológico. Segundo Leôncio Martins Rodrigues, Collor conseguiu assim “capitalizar a hostilidade difusa do eleitorado pobre com relação a classe política e aos ricos” (1). Ao assumir o governo cai por terra a imagem construída pelas agências de publicidade e entra em cena o político arrogante, autoritário, truculento e medíocre até mesmo na escolha de um primeiro