etica e cidadania
Estatuto da Criança e do Adolescente:
O sentido da Lei para as relações intergeracionais
Patrícia Junqueira Grandino1
Com muita freqüência escutamos pessoas mais velhas dizendo que as crianças de hoje são diferentes das de antigamente. Dizem que são mais espertas, mais malcriadas e que sabem muito mais coisas do que as de antigamente. Nós, que somos adultos, dizemos que não seria possível, no tempo em que fomos crianças, responder aos pais do modo como hoje as crianças respondem, nem tampouco reivindicar espaço para expressar opiniões e desejos como fazem atualmente. Quantas vezes não ouvimos de alguém mais velho que
“determinados assuntos não eram conversa para crianças”?
Parece que até gerações recentes, havia mais restrições para aquilo que crianças poderiam ou não dizer, conversas das quais poderiam ou não participar e, principalmente, que o relacionamento com os adultos, fossem eles pais, professores, parentes, médicos ou enfermeiros, era definido pela obediência dos mais novos em relação aos mais velhos, não importando se estes estivessem certos ou errados: as crianças deveriam obedecer.
É mesmo verdadeira essa impressão, já que, como em tudo na história da humanidade, a cada geração podemos observar mudanças nas crianças e adolescentes e também nas maneiras como os adultos percebem e se relacionam com essas novas gerações. Ao mesmo tempo em que podemos reconhecer traços comuns que são transmitidos de geração a geração, somos também sujeitos históricos, pois quando nascemos herdamos o acúmulo de transformações que
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Professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo.
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nossos antepassados construíram. Mas somos herdeiros ativos, pois também interferimos para que novas mudanças aconteçam e as transmitimos aos que nos seguirão. Do lugar de “miniatura de adultos”, quando não sabíamos da complexidade do desenvolvimento