TOMÁS DE MERCADO E OS TRATOS Y CONTARTOS No auge do Século de Ouro da Espanha, o capitalismo nascente e a moral católica se encontram, na efervescência dos descobrimentos e de diversas transformações. Sevilha se torna o maior porto do mundo. Os seus prósperos mercadores, organizados numa entidade de classe cha- mada Consulado dos Mercadores, encomendam um manual de negócios a um religioso dominicano, que completava seus estudos na renomada Universidade de Salamanca. O religioso era teólogo e especialista nos clássicos gregos e latinos. Chamava-se Tomás de Mercado , pro- vavelmente originário de uma família de mercadores. Ele aceitou a tarefa e publicou, em Sevilha, o volumoso manual com o título de Suma dos Tratos y Contratos, com a aprovação do rei e de doze teólogos doutores. O que levou aqueles prósperos mercadores a buscarem a ajuda de um religioso para um assunto em que eles eram exímios profissionais e conheciam tão bem? Que necessidade tinham eles das considerações de um teólogo? TEOLOGIA DE MERCADO UMA VISÃO DA ECONOMIA MUNDIAL NO TEMPO EM QUE OS ECONOMISTAS ERAM TEÓLOGOS bem diferente, portanto, da economia clássica que se formou no século XVIII, com Adam Smith. Aquele manual tinha por finalidade explícita ensinar aos mercadores o que é justo e injusto nos negócios. O dominicano explica que “esta é a primeira coisa que o cristão deve saber neste assunto, para que não perca o bem eterno, tratando do temporal”. A economia concebida como parte da teologia moral é o conteúdo do seu livro. Tomás de Mercado aborda as grandes questões econômicas do seu tempo, que vive as transformações e as tensões dos descobrimentos. A propriedade, a riqueza, o trabalho, o comércio, o preço justo, o livre mercado, o monopólio, o tabelamento de preços, os metais preciosos, a teoria monetária e a inflação, o câmbio, o banco e o empréstimo, a usura, o tráfico de escravos, tudo isso faz parte de sua obra. Ela não é só teórica, mas amplamente descritiva: o mercado de