Eterno formando
Dedicava-se à música, respirava música; jamais tornou-se músico Gastava-se com a família, diluía-se nele e por ela; mas nunca teve família. Esmerou-se excruciante em ser modelo para os irmãos; porém, não ganhou irmãos Foi cético,simpatizante,crente,crítico,descrente,cínico...agora não se importa com nada disso. Isso mesmo: importa-se com o nada, e nada mais. Não acreditava na “fé”, nos “irmãos” , na família...e chorava seu nada com música.
Esteve de luto enquanto vivia, adoeceu quando apaixonado Antecipou tragédias que jamais chegaram, agonizou mortes de gente que ainda ta viva Seu coração era a agonia, a tragédia, a paixão, a morte...mas não se sabia vivo. Amava o prazer, a bebida, o sexo, o calor de uma mulher Mas mulheres o congelaram, sexo lhe entediou, a bebida entorpeceu-lhe O prazer? Na verdade nunca esteve lá: eram suas projeções de carência.
Escolheu um pôr-do-sol , abraçou uma árvore, Pôs sua canção predileta a tocar: “Veja meu coração”, dizia a canção. Pobre homem, ousava chamar de coração o buraco aberto e exposto em seu peito ! O sol se pôs, a música tocou repetidas vezes, A árvore abraçou-lhe com uma corda: Enfim, pela primeira vez sentira a ânsia da vida que se preserva; Mas isto lhe era suficiente: - O sol se pôs nele, para ele; a arvore abraçou-lhe com a força de um nó, A música tocava “veja meu coração”... e assim ele se pôs com o sol, E sua vida se derramou na terra, e seu coração expôs-se aos corvos do céu E a natureza lhe devorava o interior...e a vida deliciava-se ali... na morte, No abraço da árvore, no