Eterno formando
Falaria da vida que passa sem ser notada,
Do nascer e pôr do sol que já não encanta,
Do respirar tão necessário quanto esquecido,
E da estranha solidão em um mundo tão povoado.
Se soubesse escrever...
Exporia as dores engolidas e que engolem tanta gente,
Comunicaria a esperança aos que jazem à “margem”,
Provocaria o “vômito” das culpas entaladas na garganta de quem delas evade de modo tão leviano.
Se soubesse escrever...
Ah! Choraria em verso e reverso a dor da fome:
- Fome de pão, fome de água, fome de justiça, fome de amor.
Clamaria pela reconciliação das famílias, que tanto se perdem em “pazes forjadas”.
Choraria pelo desencanto de tudo: se soubesse escrever !
Se soubesse escrever...
Evocaria a atenção para o poder das coisas simples:
- O poder da verdade, da tolerância, do perdão, do amor.
E cantaria, sim, até mesmo enquanto durmo, a beleza esquecida na infância da vida: por mais cruel que esta tenha sido.
Mas não sei escrever !
Então, calo-me, e venero a passagem da vida, a passagem do sol, a respiração que agora sinto ,enquanto pulsa meu coração sedento por continuar aqui.
Choro enquanto canto as dores do mundo;
Enquanto melodiosamente harmonizo minha esperança em “gente melhor”, mundo melhor, e dias melhores.
Já que não sei escrever, peço a Deus não que abra os olhos para nós, antes que abra nossos olhos para cada gesto Dele aqui, agora, por nós, em nós, entre nós.
Mesmo que soubesse escrever, sei que preferiria não fazê-lo.
Antes, pisaria nesse “chão nosso de cada dia”, e enxugaria as lágrimas dos que choram, cantaria a morte e a vida, com a gratidão de quem entende que ambos são um só dom, tão maravilhoso quanto de curto prazo.
Preferiria sempre, deixar caneta e papel;
E sentar-me no chão como criança, em um mundo onde todos são amigos e felizes,
Onde não há fome de nada, pois tudo que é “meu” é “nosso”;
Onde “verdade”, “justiça”, “beleza”, “perdão”, “amor”, são meras palavras e