Estudo
Edilene Freire de Queiroz
A pesquisa sobre o psicopatológico tem revelado que os sistemas de classificação de sintomas fracassam diante da singularidade da clínica. À medida que o saber psicanalítico se socializa, põe em evidência o fato de o saber sobre o pathos não estar no observador e sim no portador do sofrimento. Sendo assim o foco da pesquisa deve incidir sobre o sujeito afetado pelo pathos, e não sobre o psicopatólogo; caso contrário, vemos proliferar sistemas classificatórios. Porém é preciso o psicopatólogo também se aperceber afetado pelo pathos, embora de modo indireto – padecer com o sofrimento do outro –, para disso decorrer o desejo de saber, o desejo de curar. A teorização sobre o pathos supõe, então, a implicação daquele que escuta, ou seja, o psicanalista. A forma como cada analista é afetado pelo discurso do analisante e se posiciona na escuta suscita percursos diferentes, desde o trabalho pessoal e a supervisão até a produção de pesquisa. Não é possível ao pesquisador psicanalítico situar a metapsicologia freudiana sem se situar a si próprio. A explicação do campo metapsicológico acompanha a explicação da posição do pesquisador. Na produção de pesquisa metapsicológica, o caso clínico aparece como ancoragem necessária. A clínica psicanalítica, desde Freud, tem-se servido dele como matéria-prima essencial à modelagem de conceitos e/ou metáforas, ciente de que o saber a respeito do inconsciente brota do discurso do analisante.
O trabalho recente de tese, empreendido por mim, sobre O Discurso Perverso na Clínica Psicanalítica exacerbou-me o interesse em saber como "um caso" se torna "o caso". A experiência de inclinar-me sobre fragmentos clínicos levou-me a supor que tal ato indica uma sobreposição ou transposição do analista, o qual, uma vez instado nessa posição, gera uma sobredeterminação do psicopatológico: transcende-se a vivência clínica imediata e singular do analisante. Se o ato de escutar o pathos do outro