Estudo sobre solidariedade Paugam
Serge Paugam
Introdução
“É necessário que nossa sociedade retome consciência de sua unidade orgânica; que o indivíduo sinta essa massa social que o envolve e o penetra, que ele sinta sempre presente e ativo, e que este sentimento regule sempre sua conduta; pois não é o bastante que isso o inspire apenas de tempos em tempos dentro de circunstâncias particularmente críticas […] Eu acredito que a sociologia é quem, mais que qualquer outra ciência, seja capaz de restaurar essas ideias. É ela que fará compreender ao indivíduo o que é a sociedade, como ela o completa e o quanto são poucas as coisas reduzidas às forças dos indivíduos. Ela o fará sentir que não existe nenhuma diminuição em ser solidário de outrem e dele depender, e tão pouco de não pertencer inteiramente a si mesmo. Sem dúvida essas idéias não se tornarão verdadeiramente eficazes a não ser que elas se propaguem nas camadas profundas da população; mas para isso é necessário primeiramente que nós as elaboremos cientificamente na universidade.”
Emile Durkheim, La science sociale et l’action,
1970, p. 109-110 (Cours de science sociale,
Leçon d’ouverture, 1888)
Na citação acima, colocada em epígrafe, e datada de 1888, cinco anos antes da publicação de sua tese sobre a divisão do trabalho, o fundador da sociologia francesa determina para esta disciplina ainda pouco conhecida uma missão fundamental: dar à sociedade uma maior consciência dela própria e de sua unidade, reforçar e tornar mais visível os laços que prendem os indivíduos entre eles afim de evitar o egoísmo que os espreita. Dito de outra forma, se trata de prevenir o risco da desagregação e da anomia que a sociedade como um todo incorre. Se esta missão pode parecer hoje um pouco excessiva, é necessário reconhecer que os trabalhos produzidos em ciências sociais sobre o tema da solidariedade têm uma utilidade social na medida em que eles permitem melhor compreender por sua vez os fatores de coesão e de