Estudante
Paulo C. Pinheiro, Murilo C. Leal e Denilson A. de Araújo
A cachaça é uma bebida genuinamente brasileira, com teor de etanol entre 38% e 54% em volume, a 20 °C, obtida através da destilação do caldo de cana-de-açúcar fermentado. No presente artigo, são descritos alguns de seus aspectos históricos, sociais, econômicos, sua produção e sua composição química. cachaça, produção, composição química
Recebido em 3/1/02, aceito em 9/10/03
L
L
Uma pequena dose de história
Não teria havido a cachaça1 sem a cana-de-açúcar, uma espécie vegetal originária da Ásia e da Oceania (Figura 1), inicialmente usada no Brasil Colônia para a produção de rapadura nos engenhos. Para extrair o suco da cana, usavam-se engenhocas de madeira (moendas) movidas por animais, pelos escravos (Figura 2) ou pela força da água. Para separar o álcool do suco de cana fermentado, utilizavam-se os alambiques, que eram em grande parte feitos de barro (Guerra e Simões, 2001, p. 125, 127). Segundo fontes documentais dos anos de 1762 e 1817, eram obtidos dois tipos de bebida destilada: uma provinha do caldo de cana fermentado e se chamava aguardente de cana; a outra era obtida a partir do que restava nas caldeiras dos engenhos e era chamada aguardente de mel ou cachaça (Zeron, 2000, p. 56, 58). Auguste de Saint-Hilaire, em “Viagens pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais” (1817), registrou o gosto geral pela aguardente, incluindo brancos, mulheres, índios e negros.
3
Figura 1: Aquarela sobre papel de Jean Baptiste Debret: Canne à sucre (cana-de-açúcar).
É evidente, em seus registros, o vício (por vezes desastroso) desses dois últimos pela bebida (Ibidem, p. 59). Diante da predileção popular pela cachaça, que era mais barata e abundante que as bebidas portuguesas, muitos engenhos passaram a valorizar mais a sua produção do que a do açúcar. Diante disso, a Companhia de Comércio recorreu à Ciência do Conselho da Coroa e, em 13 de setembro de 1649, a Carta