Estudante

31 de dezembro de 1999
Sexta-feira mais que presente
Hoje foi um desses dias melancólicos e ainda está sendo. E ainda será. Não porque é a virada do ano, do século, do milênio, ou porque dizem que o mundo vai acabar, ou pior: pelo meu aniversário. Mas sim por causa da maldita pílula do esquecimento.
Não sei se você se lembra, mas há exatamente um ano eu estava escrevendo em você pela primeira vez, encharcando você de lágrimas e amarguras. Me perdoa, eu não sabia o que estava fazendo, mas foi extremamente decepcionante ver meus 16 anos desmoronando depois de ter meus lábios roubados de mim. Era tão difícil o meu direito de desamor ser respeitado? Me foi levada até a razão, eu estava tão fora de mim que resolvi ser cobaia da ciência e bastou um gole pra que a tal pílula descesse garganta abaixo.
Eu sei, você ainda me acha a pessoa mais esquisita do mundo, já que geralmente as pessoas fazem idiotices por desamor e eu o desejava profundamente. Negava o amor até onde pudesse, mesmo hoje. Me arrependo de ter perdido minhas memórias por quase 8 meses, mas ainda assim - esse é um segredo que confio a você - tenho medo do tal amor.
Depois desse episódio lamentável, como eu já disse e você já tá cansado de saber, foram 8 meses sem um monte de lembranças. Dizem que elas, as lembranças, são o tesouro comum das pessoas, tipo um elo que une a gente com cola superbonder a pessoas que a gente nem conhece. Eu, mais do que ninguém, senti isso na pele. Meu objetivo era esquecer um único beijo e o remédio acabou levando minhas viagens, meus bichos de infância e até uns amigos. Eu me sentia um copo furado, não importava o quanto eu tentasse, o meu vazio nunca se preenchia. E durante esses meses, quando não fui ninguém, deixei até a nossa cumplicidade de lado, bê. Ainda bem que o efeito foi passageiro e mais de duzentos dias depois eu as recuperei.
É, você provavelmente tá curioso, porque manti segredo a respeito dos acontecimentos desse dia fatídico. É que se tem uma coisa que