Estudante
NINGUÉM SEGURA ESTE PAÍS
UFANISMO, DESENVOLVIMENTO E TORTURA
O governo de Costa e Silva (1967-1969), já o dissemos, esteve de tal maneira envolvido em problemas políticos e político-militares que não lhe sobrou tempo para a administração. Ou foi quase isso, porque a equipe econômica, com Delfim Neto no ministério da Fazenda e Helio Beltrão no Planejamento, longe dos holofotes, completou o trabalho de saneamento iniciado por Castelo Branco.
Assim, ao assumir a Junta Militar, o Brasil já se achava praticamente recuperado e dava os primeiros sinais de crescimento, iniciando um período fastigioso, que ficou conhecido como o do "milagre econômico brasileiro". Era uma bolha de sabão, grande, colorida e brilhante, fascinando a todos e, embora sem consistência para se sustentar por muito tempo, serviu para iluminar o governo Médici, escondendo os reais problemas do país, que o levaram mais tarde à recessão e aos anos oitenta, conhecidos como a "década perdida".
Mas, no início dos anos setenta, quase tudo era festa. O Brasil ganhou a Copa do Mundo; já havia sido feita a integração da Guanabara com o Rio de Janeiro em um só Estado, simbolizada pela a inauguração da ponte Rio-Niteroi; o mar de 200 milhas era assunto de todos os dias, no Brasil e fora dele; estávamos construindo a rodovia transamazônica que, num segundo tempo, seria estendida até o oceano Pacífico; após ela se faria outra, transversal, cortando a selva de norte a sul, e mais outra, ocupando a calha norte do rio Amazonas. O Brasil transformou-se na décima potência industrial do mundo e, como garantia a propaganda, no ano 2000 seríamos já a terceira potência, superados apenas pelos Estados Unidos e Japão.
Por trás desse crescimento, misturado a forte dose de ufanismo, a outra verdade, que a censura escondia dos olhos e ouvidos dos brasileiros: a perseguição política, a tortura e a morte. As guardas-civis foram extintas; as forças públicas foram substituídas