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O suplício de Tântalo

A mitologia grega é uma perene fonte de conhecimento para as civilizações pós- helênicas. Uma policromia tragicômica extremamente rica em “humanidade”, embora cheia de deuses, faz de suas metáforas o maior instrumento para a compreensão das grandezas e das vilanias inerentes ao ser humano. Não há pecado nem virtude que não esteja ali representado.

Uma nuance dessas aventuras que me chama especial atenção, é o relato dos terríveis castigos aplicados, impiedosamente, aos que ousavam desafiar o Senhor do Olimpo e seu séqüito divino, infringindo suas polêmicas leis.

A explosiva ira de Zeus está, por exemplo, na severidade da penitência imposta ao arguto Sísifo, o qual, por tentar ludibriar a morte, é condenado a carregar um rochedo montanha acima, para, impotente, assistir a ele rolar morro abaixo, por toda a eternidade.

Também Prometeu, o imprudente que furtou a luz do Olimpo para presentear os mortais, experimentou o azorrague dos deuses. Acorrentado ao Cáucaso, o titã vê o próprio fígado, prontamente recomposto, ser avidamente devorado por uma águia faminta.

Uma dessas penas, entretanto, é, aos meus olhos, particularmente interessante porque ilustra o que acontece com aqueles que, desfrutando de posição privilegiada, tripudiam dos crédulos: o suplício de Tântalo. Habitué dos banquetes olímpicos, o rei da Frígia abusa da confiança depositada nele, rouba os acepipes divinos e, em lugar destes, serve o filho como prato principal, sob pretexto de testar a perspicácia e a clarividência dos deuses. Desmascarado na sua oligofrenia, o doidivanas é recolhido ao Mundo Inferior onde, sob a vigilância de Hades, permanece “ad perpetuam” mergulhado em um lago, até o pescoço, cercado de árvores carregadas de deliciosos frutos, padecendo, no entanto, de sede e fome, pois a boca, numa contorção autônoma, se recusa a receber o alimento e a água.

Sentenças como essas, prolatadas pelo todo-poderoso ancião desalmado e crudelíssimo, podem parecer