Estamira
“Tudo o que é imaginário tem, existe, é. “
Dentro de uma leitura psicanalítica o documentário “Estamira” é pautado na escuta de um psicótico, na escuta de um dizer. Marcos Prado permite que ela se faça ouvir. Dá voz a loucura de Estamira.
Estamira lança seu grito delirante numa tentativa de dar sentido a sua tragédia. Dar alguma forma ao que está desconexo e fragmentado. Ela tem uma verdade para anunciar que um simples diagnóstico não revela. O delírio é o seu grito. É preciso alguém capaz de escultar.
Sua história de vida é marcada por uma função materna de simbiose, sem espaço para que a castração fosse cumprida pela função paterna. Lacan nos explica que o Nome-do-pai é o significante que ordena o mundo: a internalização da lei. Para o sujeito psicótico, a metáfora paterna não pôde operar e ele não dispõe do Nome-do-pai para situar-se na existência, pois o Nome-do-pai está foracluido.
No caso de Estamira seus delírios aparecem como uma forma de reatar a relação com o mundo. Sua produção discursiva é carregada de neologismos, paráfrases, repetição de ideias. O que Lacan teorizou como “holófrases da cadeia significante”, ou seja, na psicose os significantes não formam cadeias, não há uma vinculação, não estabelecem laços sociais pela linguagem. Porem, Lacan evidencia que a produção do psicótico está fora do discurso, mas não da linguagem.
Do ponto de vista subjetivo, Estamira identificou-se fortemente com o lixo, o que possibilitava uma certa “estabilização” mantendo-a fora do delírio. Estamira encontrou no lixo uma compensação da carência paterna, ou como nos diz Lacan uma “Suplência do Nome-do-pai ausente”, o que na teoria seria a causa da psicose. Assim essa estabilização mantinha em alguns momentos Estamira fora de seus delírios.
Ouvindo as palavras contundentes de Estamira como imaginá-la uma doente mental? Como julgá-la possuída pelo demônio? Pois se ela é, de fato, como diz, a visão de cada um? Sua missão é revelar a verdade,