Estamira

Documentário ”Estamira”, de Marcos Prado.

O documentário conta a história de uma mulher de 63 anos, conhecida como Estamira, que trabalha em um aterro sanitário do Rio de Janeiro. Estamira passou a ter distúrbios mentais (um quadro de esquizofrenia) à partir da metade de sua vida. Esses distúrbios não a faziam sofrer, nem a silenciavam quanto ao que achava que deveria anunciar ao mundo. Talvez por isso, por dizer, da sua forma, as verdades que muitos não estavam preparados para ouvir, ela era alvo de julgamentos da sua própria família. Seu filho achava que sua loucura era de origem demoníaca. Já a outra filha achava que era “falta de fé”. Porém, Estamira não fazia mal à ninguém com seus delírios e discursos eloquentes. Não havia necessidade de quererem a trancar em um hospital psiquiátrico, tirando-lhe a voz, o direito de se expressar e ignorando seus desejos. Entretanto, a indústria farmacêutica e o tratamento indiferente de alguns psiquiatras às vezes são mais influentes e persuasivos.
Nesse contexto, como vimos no livro “O que é Loucura?”, de João Frayze-Pereira, devemos considerar que há um padrão a ser seguido para sermos considerados “normais” e, também, quais são os fatores políticos e sociais que fazem com que tais indivíduos sejam marginalizados e excluídos do convívio de indivíduos diferentes deles. O posicionamento da loucura é particular em cada cultura, e não se restringe aos aspectos religiosos. O vínculo entre loucura e patologia não é universal. Portanto, não se pode afirmar o que é loucura sem ter como referência o que é considerado normal para tal sociedade. Nem tampouco sem antes refletir e olhar para dentro de si.
Estamira é apontada como louca, seu discurso é ignorado pelos que convivem com ela, porém ela era mais consciente da medicalização que está havendo na atualidade do que muitos que se dizem lúcidos. Podemos observar isso claramente em uma cena, na qual ela diz: “Eles estão, sabe fazendo o que? Dopando,